domingo, 19 de janeiro de 2014

Pro Rap? Estamos todos Perdidos

Eu tomei um gole da vitamina que pedi para completar o almoço, levantei o copo - naturalmente - com a mão direita, aonde sobressai a tatuagem do mindinho com o símbolo do Wu-Tang Clan. Tomei também um susto, com um cara me questionando se era realmente o logo do Wu-Tang. Respondi afirmativamente e já me preparei para a próxima pergunta padrão: "Qual é o seu favorito do grupo?". Eu sempre respondo ODB, mas dessa vez respondi o meu segundo favorito: Method Man.

Depois de um rápido questionário sobre um dos melhores grupos de RAP de todos os tempos, como se fosse um tipo de teste que uma garota branca tenha que passar por ter esse tipo de tatuagem no corpo, eu me levantei do balcão da lanchonete na Avenida Paulista e fui para o escritório, do outro lado da rua.
Nesse breve caminho me perguntei: Por que eu sempre estou sendo posta a prova? Para provar que não sou "modinha"? Sério? Essa seria a real preocupação do cenário do RAP? Que não tenham mais pessoas envolvidas no movimento que não sejam reais adoradores e conhecedores de tudo que engloba o Hip Hop? Suspirei e dei graças pelo cara que me abordou no balcão da lanchonete não ter visto as frases tatuadas no meu peito "O Rap é Compromisso" e "Respeito é pra Quem Tem". Iria me atrasar do horário de almoço se tivesse que responder um questionário teste sobre o Sabotage também.
Gosto de RAP desde os 8 anos. Rimo improvisado e faço poesia desde os 10. Eu vivo o RAP desde os 12. Eu, gozando de minhas faculdades mentais aos 21 anos, estou absolutamente convencida que eu não preciso provar porra nenhuma para ninguém. São quase 10 anos de caminhada.
E eu não sei se eu passo muito tempo nas redes sociais, porque trabalho com isso, mas vejo muitas coisas que os próprios MCs falam que simplesmente chego a ficar extremamente desanimada. E demorei para chegar a uma conclusão um tanto quanto absurda, mas não é: estamos todos perdidos.
Sim. Perdidos. Depois de 40 anos de RAP nacional, com pelo menos uns 30 aonde 90% do contexto das músicas se tratam de política e sociologia, os últimos 10 anos trouxeram flechas que vieram em todas as direções apontando para todos os lados qual é o melhor caminho a se seguir. E realmente, não sabemos se queremos justiça, igualdade e liberdade ou se queremos mesmo é uma BMW, um Bentley e uma Porshe.
É engraçado como um movimento que sempre pendeu para um lado mais libertário da coisa toda, apareça tão conservador diante de tantos impasses. A gente não sabe se anda ou se corre. Se fica com o capitalismo mesmo porque é o que 'ta teno' ou se revolucionamos e instalamos uma Anarquia. E sempre tem um ou outro para ditar o que é certo e o que é errado, o que é bom e o que é ruim. Afinal de contas, todos os caras que berram aos quatro cantos a frase: "Ouçam meus Sons" são os mesmo caras que são peritos em dizer o que você pode ou não pode ouvir.
Acabamos por fim, caminhando separados, para qualquer lado que mais nos apetecer. Nos desvencilhamos como movimento e acabamos como lobos solitários, sem matilha. E aos que perguntarem: o Hip Hop não morreu, ele só está mais disperso em seu próprio conflito interno e em busca de seu caminho, que eu creio ser, tornar-se música de fato, arte de fato, e assim, se restabelecer como movimento de fato. E não existem leis que podem trilhar esse caminho, porque ele é feito de raízes.


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