sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Superando Traumas

Eu creio que para qualquer ser humano, de qualquer país, cultura, etnia ou idade, seja difícil de se superar um trauma. Talvez, porque é um estado mental enraizado e muito complexo de se lidar.

Todos nós, ou a maioria de nós, possuímos traumas. Em uma recente autoanalise descobri que o meu aparente "medo" de baratas, na realidade, provinha de um trauma pesado que carrego desde a infância.

E junto com a chegada do verão por essas terras paulistanas, eis que chegam também as baratas, acompanhadas, claro, do meu terror. Meu trauma já havia chego em um ponto tão delicado e avançado que eu andava pelas ruas (principalmente durante a noite) olhando para o chão, em busca de possíveis ameaças.

Saía correndo sem motivo, só para não cruzar com uma cascuda. E não. Isso não é normal. Mulheres e Homens tem medo de barata. Mas é mais próximo ao asco do que ao pavor. No meu caso, era algo associado ao horror, ao medo tenebroso e o fato de encontrar um bicho dessa espécie era motivo para surtos psicóticos e gritos de levantar defuntos.

Passei a me incomodar com isso. Não era só o medo. Não era só o inseto em si. Passou  a ser irracional, crítico a um ponto de descontrole emocional e mental. Já não tinha a liberdade de caminhar pelas ruas sem soar frio, acompanhada da ideia de encontrar uma barata. Chegou a ser uma prisão dentro da minha própria mente e eu não nasci para viver dessa forma.

Minha história com as baratas é longa. Eu me lembro de praticamente cada momento em que vi alguma. Mas tudo começou quando eu era bem pequena e meu pai foi consertar a porta do banheiro de casa. Lembro de poucas coisas, mas sei que dentro daquele pedaço de madeira existia um universo das baratas. O quintal da minha casa ficou coberto por uma malha marrom do casco desses animais. Eram tantas baratas, que não me lembro de maiores detalhes, mas lembro disso.

Minha família por parte de pai também carrega esse medo. E como algo genético, herdei esse atributo. Lembro das histórias da minha vó e minha tia contando de seus pavorosos contatos com as baratas. Uma subiu pela perna da minha avó e outra pousou no óculos da minha tia. Cruzes! Eram histórias de terror. Cresci dessa forma. Esse medo se aninhou em mim e cresceu. Simplesmente tomou conta.

Avistar ou até somente imaginar uma barata me deixava completamente em estado de alerta. Aumentava minha sensibilidade e eu poderia sentir cada fio de minhas calças encostando em minha perna, o que resultava em cenas constrangedoras, como, eu me coçando e gritando ao mesmo tempo.

É engraçado aos olhos alheios. Uma menina tão grande e forte, tão decidida e cheia de atitudes, sentir medo dessa maneira de um bicho tão pequeno e inofensivo. Mas só eu sei. Poderia enfrentar qualquer outro bicho, mas não conseguia encarar uma barata.

Tive de tomar uma decisão ou seria escrava desse trauma pelo resto da vida, e não haveria possibilidade de paz nessas condições. Passei então, a me questionar, a entender esse medo e descobrir suas origens, entender seus motivos, compreender seus conceitos. Fiz uma retrospectiva emocional e passei a me questionar de verdade sobre o porque desse medo.

Cheguei a uma conclusão óbvia: eu sou maior que isso. Maior que as baratas e maior que meu trauma delas. Maior que meus receios e irracionalidades. Tive que assumir o manche do intelecto para me colocar de volta em meu lugar.

Hoje de manhã, ao sair para trabalhar, na parede ao lado do portão vi uma barata. Andava tranquilamente em direção a rua. A versão anterior de mim teria gritado, corrido, acordado a todos os vizinhos e surtado. Mas não, eu parei e a encarei. Utilizei de todas minhas armas mentais contra aquele simples animal, que até se assustou com o barulho do portão abrindo. Eu poderia ter matado aquela barata se ela estivesse ao alcance.

Senti orgulho de mim mesma. É um avanço! Não estou 100% livre do medo de baratas, porque só percebi que voltei a respirar depois que passei do portão, mas, com certeza é uma evolução. Hoje eu já não sinto tanto medo de baratas. E espero que essa luta do meu Eu contra esse trauma seja em breve concluída! Esse troféu vai pro hall of fame da mente!

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