sábado, 6 de dezembro de 2014

Por Que Precisamos de Mais Mulheres no Rap?

Às vezes eu me pego pensando: "como é que vamos cobrar espaço para as minas no RAP nacional e no Hip Hop se ainda existem tantas minas escondidas dentro de casa sem coragem suficiente para se expor na cena como atuantes?" Essa é uma questão que me incomoda muito... Sabemos o quanto a cena sempre foi muito masculina, um ambiente com certeza hostil para muitas mulheres, aonde não nos sentimos representadas, e o pior, muitas vezes oprimidas por músicas e atitudes de maneira generalizada. Sabemos também que esse cenário vem mudando de maneira sutil, mas ainda assim, existem muitos impasses e um longo caminho de luta pela frente.
Entretanto, é importante reconhecer que nosso número de gênero e identificação no RAP é muito restrito, aonde quase sempre somos colocadas como um segmento, como uma vertente do RAP nacional. Mas isso não é o correto, pois o "RAP feminino" não é um estilo dentro do RAP, como o BoomBap ou o Gangsta, mas sim uma classe escondida e silenciada de várias maneiras.
Talvez se você mora em São Paulo ou Rio de Janeiro, já pode perceber muitas mudanças com o cenário feminino dentro do movimento em relação à 10 anos atrás, mas se você for de estados e cidades aonde o movimento é menor, aposto alto que ainda percebe a falta das mulheres atuando no Hip Hop.
Esse desfalque é causado pelo próprio patriarcado, que desde sempre, exclui e silencia mulheres no Brasil e no mundo, reservando certos espaços e ações somente aos homens cis, e porque não citar também, héteros. As consequências do patriarcado se entrelaçam com a história do Hip Hop no Brasil, um movimento que nasceu mais como cultura periférica do que como movimento negro, em relação aos Estados Unidos. Com o passar dos anos o movimento foi se incorporando (através do RAP gangsta) à luta de classes e militância negra. Algumas poucas presenças femininas gritavam pelo direito das mulheres, mas como minoria, raramente eram ouvidas pelo grande público com algumas raríssimas exceções.
No inicio da atividade feminina no movimento, nem sequer haviam eventos e festivais exclusivos de RAP Feminino. Com o tempo e aumento da presença da mulher no cenário, essa postura irredutível foi afrouxando. Depois da atuação marcante de Dina Di nos anos 90, parece que foi necessário afirmar que a Mulher cantando RAP é importante.
E é importante! É indispensável a presença feminina dentro do RAP! Pois como um movimento que tem atrelado à sua essência a luta por justiça, igualdade e liberdade, é essencial que essa luta reflita nos próprios espaços aonde o movimento habita!
É importante porque a mulher possui outra noção de mundo do que o homem, justamente pela opressão que sofre. Dar voz à mulher na cena, e claro, proporcionar um ambiente igualitário para que a mulher participe e o ocupe é permitir que sua visão de mundo seja exposta. Sendo assim, fica muito mais fácil de entender o mundo e a sociedade ao nosso redor, não seria esse um dos objetivos?
Talvez se parássemos para pensar, a mudança de algumas pequenas atitudes já seriam o suficiente para permitir maior presença das mulheres nesses espaços, como por exemplo, parar de tratar mulher como objeto no rolê, parar de censurar a ideia de alguma mina quando começa a falar, parar de olhar com desdém quando alguma mulher chega para somar (sendo apresentações ou apenas como espectadora), parar com atitudes esnobes ou soberbas e o mais importante: respeitar acima de tudo, de igual para igual.
Ok, talvez seja pedir demais, talvez isso só mude com o tempo. Eu entendo que é muito difícil a compreensão de que existe uma hierarquia e uma relação de poder que precisa ser quebrada. Mas para que isso acabe de várias formas é preciso enfrentar o silenciamento, quase que como boicote à ação feminina dentro do movimento.
Mulher, sua presença é muito importante para o Hip Hop! Não se esconda mais, não tenha medo de falar, de gritar ou de se expor! Precisamos de você junto conosco! Somente dessa maneira poderemos mostrar ao mundo como somos importantes em vários quesitos e não inferiores como o pressuposto. Somente dessa maneira, podemos nos impostar diante de ações opressoras e até reagir em maior número, quando casos como assédio e abuso acontecerem (e acontecem!).
Eu sou a favor da mulher no Rap, eu sou a favor da mulher no Hip Hop, pois todo lugar que a mulher ocupa se transforma positivamente! Com mais mulheres no hip hop temos mais crianças nos eventos, mais harmonia nas falas, maior compreensão e empatia pelas pessoas e tornamos um ambiente aonde o respeito mútuo livre de hierarquias prevalece! Não seria ótimo se todo rolê fosse assim?
Mulher, vem pro Hip Hop! Esse é meu apelo!

Evento com a Frente Nacional de Mulheres no Hip Hop - São José dos Campos (2014)

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