Estava tudo jogado pelos cantos da casa. Tinha tanta bagunça que eu mal enxergava a janela. Estava com o foco voltado para outros planos, outras ações. E não era aqui dentro. Lá fora as coisas impressionavam mais... E ainda impressionam.
Eu tropecei acho que foi no sofá, e levei o maior tombo. Devo ter batido a cabeça em alguma coisa parecida com a mesinha de centro. Isso me fez despertar. E como!
Me encontrei em meio a sujeira. Olhei em volta e fui colocando a tralha de lado até formar uma trilha por onde pudesse caminhar. Coloquei minhas portas no lugar novamente (para quem não sabe eu moldei minha casa com 7 portas, cada uma para um uso específico). E fui organizando as coisas. Tudo o que era lixo e tudo o que era aproveitável. Tudo foi se encaixando atrás das portas e eu fui tomando espaço dentro da mente. De novo a casa foi ficando limpa e olha só: eu tenho até um tapete.
Minha mente está de novo em seu lugar. Tenho outras coisas para me concentrar mas ainda assim não vou perder mais o foco desse lugar, do meu lugar.
A bagunça dos pensamentos nos faz perder o rumo, caminhamos sem direção pois não temos a segurança de saber no que estamos pisando. Pode ser qualquer coisa, mas nós sabemos muito bem quando é o chão. A minha mente funciona como uma casa. Tenho por onde entram as coisas e por onde saem, o que deixo ficar e o que deixo ir embora. Elaborei um conceito simples de meditação e encontro comigo mesma. Decidi que ia ter um espaço físico nesse lamaçal que é o consciente. Coloquei um piso bonito de madeira enceirada, um sofá vermelho de dois lugares, uma mesa de centro, um tapete e uma estante com livros. Instalei sete portas com cores diferentes: a branca representa a entrada, a preta a saída (o lixo), a vermelha meus conhecimentos
, a laranja minhas vontades, a azul minhas necessidades, a verde meus sonhos e o roxo meus medos. Manter certas coisas organizadas dá muito trabalho, mas ajuda nas decisões da vida e também tenho um espaço legal para relaxar comigo mesma, pensar e me definir.
Quando eu cito minha casa em qualquer lugar, eu não estou citando o lugar aonde eu moro, estou citando meu consciente e tudo que nele habita. Pois não moro em nenhum lugar físico, não estou instalada em lugar algum e nada me prende ao solo. Posso morar em uma residencia hoje, mas não é meu, amanhã posso não estar mais aqui, nesse recinto. Minha mente é algo que de fato me pertence. É minha propriedade e não preciso de regulamentação ou escritura para nela habitar (ainda).
Me impressiona o quanto de gente se perde por não se conhecer, não ter ideia de si mesmo, sequer um espaço dentro da própria mente. Gente que tem controle sobre tudo e todos mas nunca sobre si próprio. É roubado pelo tempo, pelo trabalho, pela família.
Eu quase me perdi, quase saquearam minha casa. Felizmente me lembrei que ela está ali, não importa o que aconteça, sempre estará.
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